Preservação ambiental, agrotóxicos e o futuro das abelhas nativas

O equilíbrio biológico dos biomas brasileiros bem como a preservação de espécies vegetais depende, quase na totalidade, das abelhas nativas sem ferrão. A preservação ambiental é o maior eixo de aplicação da meliponicultura, reafirmando o pacto de respeito e cuidado com a natureza.

O que um enxame de abelhas no Cerrado, uma árvore na Caatinga, uma Barreira de Corais nos arredores da Bahia e uma revoada de araras na Floresta Amazônica tem em comum? Esse conjunto é a fórmula perfeita para a biodiversidade, animais, plantas e ambientes estão ancestralmente e biologicamente ligados em uma cadeia de alimentação, incluindo o homem como o centro dessa cadeia que necessita de um equilibro para garantir a vida na Terra.

Com o crescimento da agricultura e a necessidade de alimentar, ocorreu proporcionalmente o aumento do uso de agrotóxicos nas lavouras e consequentemente impactos na saúde humana e no meio ambiente. Atualmente existem 2.962 agrotóxicos registrados para uso no pais, esse número é alarmante quando se compara com a taxa de consumo anual de mais de 300 mil toneladas de agrotóxicos lançados em diversas partes do Brasil.Agrotóxicos no Brasil, uso e legislação (ecodebate.com.br)

Mesmo em baixos níveis de concentração, os agrotóxicos podem resultar em efeitos letais para as abelhas. A cada dia, aparecem mais ocorrências de registro de morte de enxames após pulverizações aéreas em áreas de monocultivos. Com isso há uma desordem, um colapso nas abelhas: intoxicações causadas por venenos que as impendem de retornarem para a colônia (morrem no caminho) ou quando retornam, já estão contaminadas, levando o veneno para dentro de sua casa, geralmente contaminando toda a colmeia e consequentemente, culmina em sua extinção.

No manejo, os meliponicultores devem quando de uso de agrotóxicos no raio de vôo de suas espécies de abelhas, fazer observações como a quantidade de abelhas mortas no perímetro das caixas do meliponário, redução no número de postura, baixa na atividade de forrageamento, incapacidade de substituição de rainha e má formação de larvas e células de crias são indícios que algo não vai bem com sua colônia.

A pulverização aérea pode representar a forma mais nociva dos agrotóxicos ao meio ambiente e à saúde humana, principalmente quando estes não são aplicados conforme preveem as normas de utilização do produto. Suas gotas podem ser transportadas pelo vento para longas distâncias, inclusive atingindo áreas habitadas.

NEM TUDO É MEL!

76% das plantas utilizadas para a produção de alimentos dependem de polinizadores. As abelhas são responsáveis diretas por 80% dos cultivos polinizados, sendo essa polinização responsável por gerar R$ 43 BILHOES DE REAIS NO BRASIL. (Fonte: Marcia Maués, pesquisadora da Embrapa Amazonia oriental).

“A falta de abelhas provocaria um efeito em cascata: se não temos sementes, não temos pasto, flores, frutas, nem animais que se alimentam de frutas. As abelhas e os demais polinizadores desempenham um papel fundamental na regulação dos ecossistemas”, explica Carolina Starr, consultora de biodiversidade e serviços aos ecossistemas da FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura).

É necessário práticas e políticas públicas que incentivem a redução do uso de agrotóxicos e promovam a variedade de culturas (em detrimento de monoculturas que limitam a diversidade da alimentação das abelhas e utilizam grandes volumes de agrotóxicos e transgênicos). Temos potencial de criar um ambiente natural para atrair abelhas, para além de ações institucionais. Podemos colaborar com o plantio e preservação da flora nativa, diminuir ou vetar o uso de produtos químicos e ou inseticidas, manter flores, ervas e arvores nativas e ser um agente de boas práticas ambientais.

 

Legislação federal de agrotóxicos e afins. Brasília (DF): Ministério da Agricultura e do Abastecimento; 1998. p. 7-13.

GODOY, J. Alarme contra inseticidas assassinos de abelha. Disponível em: < http://tierramerica.net/2004/0313/pacentos.shtml >.

SPADOTTO, C. A.; GOMES, M. A. F.; LUCHINI, L. C.; ANDREA, M. M. Monitoramento de risco ambiental de agrotóxicos: princípios e recomendações. Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, p. 29, 2004.

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